domingo, 23 de setembro de 2018

A ser incompleto que valha por tudo.

Sempre pensei que a imortalidade não passava do momento em que algo inesquecível acaba. Em que o tempo permanece intocável por meros momentos de "é agora ou nunca" enquanto vivo para desmantelar os impedimentos de tudo. Na verdade, sempre achei que o tempo trazia memórias futuras de pensamentos ofuscados em mentes de mortais indomáveis que o Mundo tem, mas a vida fez-me pensar em todos os passageiros que por ela passaram insistentemente orgulhosos de si.
Na imortalidade devida, amar seria a incapacidade de abrir os olhos enquanto se explicava, através da ciência, que felicidade podem trazer as imagens do que já morreu em nós. Era uma vez e já foi. Quase como o mistério absurdo do alvo que todas as lembranças têm.
Ao Mundo escrevo que imortais são indecentes que nem sequer são gente. E eu sou incompleta. E a ser incompleta que valha por tudo. Numa ficção de entendimentos arranjados entre conselhos vertiginosos de quem não sabe que a vida acaba, incompletos são os risos despovoados que consolam a ingenuidade da adolescência, Porque éramos tão ingénuos e já sabíamos tudo. Éramos tão incompletos e já não nos faltava nada. Éramos tão ignorantes e já entendíamos o sentido da vida. Éramos mortalmente incompletos.