terça-feira, 27 de junho de 2017

Dilúvios à janela.

Eram como o café e o leite. Ele tirava o sono dela e ela deixava-o menos amargo. Sentavam-se sempre na janela da sua secreta morada e ficavam calados como duas pessoa a transbordar pela cabeça. Se um instante é suficiente para a mente tropeçar no coração, o mais certo era serem detentores de uma numerosa família de arranhões. 
Coberta de relíquias para a vida, todos os dias ela deixava os sonhos na cama e vestia a sua pele de viver, percorrendo caminhos  de quem nunca quis ser ignóbil demais. Não era boa entendedora e meias palavras não lhe bastavam como contentamento em vésperas de atingir o limite. 
Passou a plantar epopeias solenes no seu cérebro e deixou afogar-se em todas as perguntas guardadas debaixo da cama. Hoje fotografa dias bons e só as revela a quem sabe que tem o coração mas leve que o dela. Porque em dias de chuva, o café perde a amargura de palavras contadas à janela e os sonhos tornam-se insónias constantes. 

Sabe que ele só volta depois de aprender com mais três porque queria um amor tão certo como o café que bebe todos os dias ao acordar. Agora, reticente  em perceber que a amargura não mata sonhos, relembra as horas de trovoadas que passara à janela com ele. Talvez, um dia se esbarrem e se conheçam de novo, com um olhar mais maduro e o coração mais decidido. Talvez sejam experiências de uma vida em que só quem é inteiro, sabe transbordar. Mesmo assim ela agradece, e sonha com um Inverno mais  chuvoso que o anterior. Porque em dias de Verão, o café é muito amargo. 

domingo, 11 de junho de 2017

Ela é assim.

Ela é assim... Inteiramente consciente do que merece por dia. Ela é de exageros simples com regras curtas mas sempre de cérebro leve. Evita gente vazia porque tem a alma carregada do essencial. Cada dia ela é mais dela e menos do que o que esperam dela. Vive em linhas tortas porque as direitas só olham em frente e não deixa que a poesia a encante como antes. Ela é dona de si sem se abstrair do concreto elogio que o Mundo lhe faz todos os dias. Por muito que tentem ela não deixa de decidir histórias hipotéticas e não tolera que interrompam o seu sono de sonhos eternos. Ela não é flor que se cheire mas sim jardim que se aprecie. Pensa demais quando devia pensar de menos mas o tempo lhe ensinará que isso não passam de meras curiosidades do momento. A vida é uma despedida constante do que somos agora para o que vamos ser adiante e ela tem bem ciente em si todo o valor que o céu lhe oferece em dias de chuva. É miúda de aventuras inesperadas com mochila de conhecimento humilde às costas. E por muito que saibam disso deixam atropelar-se por ideias que só ela sabe defender. Ela é poesia que nem toda a gente sabe ler. Revela-se a quem a contempla quando mais nada a sabe ver. Porque ela é uma bailarina que aprende a dançar conforme o caos.